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02 ago 2018
Importância das Áreas Protegidas pauta segundo dia do IX CBUC
Ambientalistas, membros de entidades não governamentais e representantes do Governo Federal debateram o assunto em Florianópolis nesta quarta-feira (1º/8)

 

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), as Metas de Aichi e as Áreas Protegidas foram temas amplamente debatidos no segundo dia do IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC) - evento promovido pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, que segue até esta quinta-feira (2/8), em Florianópolis (SC). Moderado por Miguel Milano, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, o painel "Conexão entre Conservação e Geração de Valor à Sociedade" contou com a participação de Bráulio Dias, da Universidade de Brasília; Alvaro Vallejo, membro da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN); José Pedro de Oliveira Costa, da Secretaria de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente; e Maurizélia de Brito Silva, chefe da Reserva Biológica (Rebio) Atol das Rocas.

 


O primeiro a falar foi Bráulio Dias, que deu seguimento ao tema das palestras do dia anterior, ministradas por Denise Hamú, da ONU, e pela pesquisadora sueca Matilda Van den Bosch, sobre áreas protegidas e a saúde dos seres humanos. O palestrante reforçou a necessidade de ligar os temas biodiversidade e meio ambiente ao bem-estar da população. Para embasar sua apresentação, Dias destacou pesquisas e trabalhos acompanhados ao longo de sua carreira, que comprovam a melhoria da qualidade de vida daqueles que têm contato direto com áreas verdes, como o processo de pesquisa de opinião pública que vem sendo realizado desde a Rio-92 e coordenado por Samira Crespo, ambientalista carioca.

 


O estudo, que vem sendo repetido a cada quatro ou cinco anos, busca trazer a percepção da sociedade com relação à existência das áreas verdes brasileiras e o significado que elas têm na vida dos cidadãos. “Com essas pesquisas fica claro que o meio ambiente não é assunto da maior prioridade em todo o mundo, mas saúde sim. O que falta, portanto, é investir no melhor uso das áreas protegidas, o que contribuiria para a diminuição dos custos públicos para tratamento de saúde e na diminuição de doenças, consequentemente", destacou Dias.

 


Ele também destacou alguns trabalhos que salientam a importância da ligação da biodiversidade com a saúde, como o relatório elaborado pela Convenção sobre Diversidade Biológica em conjunto com a Organização Mundial da Saúde; o livro “Preservar la Vida"; a The Lancet, da The Rockefeller Foundation; entre outros. “Esses exemplos reforçam ainda mais a intenção da Organização das Nações Unidas (ONU) em trabalhar a tendência One Health, uma estratégia de saúde única, que interliga a saúde humana com a saúde animal e ambiental. Já passou da hora de percebermos a clara relação das doenças com o meio ambiente, a exemplo da febre amarela, dengue, entre outras", elencou o pesquisador da Universidade de Brasília.

 


Durante sua apresentação, Alvaro Vallejo falou sobre Governança Internacional, desenvolvimento sustentável e conservação da natureza, mostrando como funciona o trabalho da IUCN no mundo pela categorização e modelos de governança das áreas protegidas.

 


Atualmente, a organização desenvolveu um marco para análise e avaliação da governança de áreas protegidas, criando o programa Lista Verde, que tem sido adotado por vários países e dá reconhecimento positivo para áreas que têm uma boa governança. “Essa lista é como a nossa Lista Vermelha, que dá o sinal de que algo não está indo bem. Mas, no caso da Verde, alertamos positivamente para as áreas com boa gestão”, explicou Vallejo.

 


O palestrante também falou do papel da IUCN em compartilhar conhecimento e estabelecer padrões, como por exemplo o sistema de categorias das áreas protegidas e o padrão de lista vermelha. “Uma das primeiras contribuições para a governança é ter uma categoria comum que possa servir para regiões do planeta. E esse é nosso objetivo: realizar esforços coordenados em nível mundial com linguagem e ferramentas comuns, pois uma boa governança vai permitir que o país alcance as metas exigidas e construa novas redes de áreas protegidas”, finalizou.



Participação de membros do Governo


Os dois últimos participantes, José Pedro de Oliveira Costa, secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, e Maurizélia, técnica do ICMBio e chefe da Rebio Atol das Rocas, fecharam o painel trazendo números e contando algumas histórias.

 


Costa apresentou dados sobre a criação e ampliação de novas Unidades de Conservação (UCs) no Brasil para o período 2018/2019, citando que existe a intenção de aumentar os hectares de áreas preservadas no Brasil. De acordo com o material serão 25 UCs criadas ou ampliadas, das quais quatro são no bioma Pantanal, cinco na Amazônia, três na Caatinga, uma no Cerrado, três na Mata Atlântica, três no Pampa e seis em ambientes marinhos.

 


Mas o secretário alertou sobre a dificuldade de levar adiante muitas dessas propostas no Brasil, fazendo, inclusive, uma comparação irônica. “Cuidar de áreas protegidas no Brasil é o mesmo que entrar em um trem fantasma. Você está ali, vendo paisagens bonitas e, de repente, cai algo assustador em cima de você. E isso acontece várias vezes ao longo do percurso”, lamentou.

 


Por conta dessas dificuldades, José Pedro finalizou sua apresentação alertando que as políticas públicas necessitam de comunicação e ações de toda ordem: “Precisamos trabalhar na área da comunicação. Somos falhos, inclusive, para divulgar as áreas que já existem e precisamos melhorar”, finalizou, ressaltando a necessidade de discutir o mosaico do pantanal e o santuário de baleias do Atlântico-Sul.

 


Por fim, Maurizélia emocionou o público presente com um relato sobre seu trabalho na Rebio Atol das Rocas, no Rio Grande do Norte. A palestrante iniciou sua apresentação mostrando uma foto da área onde trabalha, e onde morou por muitos anos, dizendo - em tom irônico: “esse é meu escritório, não sintam pena de mim”.

 


A Rebio, criada em 1979, é um local intocável, cheio de vida e com a natureza extremamente preservada, graças à fiscalização permanente, implementada em 1991. A partir dessa história, Zélia - como é chamada - conseguiu descrever exatamente a evolução do trabalho no local, por meio de fotos que não precisaram de legendas.

 


Segundo ela, o objetivo principal da Reserva é criar estratégias para manter infratores distantes da UC. No local, além da presença contínua de pesquisadores e de estudos científicos, as atividades de rotina envolvem o patrulhamento marítimo e aéreo, o monitoramento ambiental e o desenvolvimento de programas de pesquisa. "Ou seja, quem está lá, está de corpo e alma para a conservação local", revelou.

 

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